quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Menos Lixo, melhor





Roberta B. Sanalios - Mestra em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo - Professora e Consultora Técnica para Editora DCL


O Brasil produz cerca de 200 mil toneladas de lixo por dia, sendo que 76% vão para os lixões, 23% ocupam os aterros sanitários e apenas 1% passa por tratamento.A cidade de São Paulo gasta R$ 1 bilhão por ano para processar aproximadamente 15 mil toneladas de lixo produzidas diariamente e embora seja uma das poucas cidades brasileiras a não possuir lixões, a reciclagem ainda é insuficiente e os aterros estão próximos do esgotamento.A destinação do lixo na região metropolitana está chegando a seu limite e as soluções envolvem um trabalho conjunto entre Estado e Município. Este assunto vem sendo tratado desde 1970, época em que se acreditava que somente a incineração do lixo com recuperação de energia seria suficiente. Grande erro, já que a captação de todas as emissões tóxicas é impossível, o custo é alto e o montante de cinzas é enorme.Partiu-se, então, para os aterros sanitários e atualmente a cidade de São Paulo trabalha com dois principais aterros: o São João, localizado em São Mateus, e o Bandeirantes, localizado em Perus. Os resíduos sólidos urbanos, ao serem dispostos nos aterros, passam por um processo de digestão anaeróbia feita por microrganismos que transformam a matéria orgânica em biogás. Pelas características do lixo brasileiro, o biogás gerado na maioria dos aterros sanitários apresenta elevada concentração de metano, acima de 55%, e de dióxido de carbono, acima de 30%, gases que atuam no efeito estufa.Em 1997, com a aprovação do texto final do Protocolo de Kyoto, foram criados os créditos de carbono, que são certificados que autorizam o direito de poluir. Agências de proteção ambiental reguladoras emitem esses certificados, autorizando emissões de toneladas de dióxido de enxofre, monóxido de carbono e outros gases poluentes. Inicialmente, selecionam-se indústrias que mais poluem no País e a partir daí são estabelecidas metas para a redução de suas emissões. As empresas recebem bônus negociáveis na proporção de suas responsabilidades. Cada bônus, cotado em dólar, equivale a uma tonelada de poluentes. Quem não cumpre as metas de redução progressiva estabelecidas por lei, é obrigado a comprar certificados das empresas mais bem sucedidas. O sistema tem a vantagem de permitir que cada empresa estabeleça seu próprio ritmo de adequação às leis ambientais.A partir disso, implantou-se uma unidade de geração de energia limpa no Aterro Sanitário Bandeirantes, onde grande parte dos gases gerados é encaminhada para a usina de biogás, em funcionamento desde dezembro de 2003. A técnica consiste em converter o metano, mais poluente, em gás carbônico, também poluente, mas menos que o metano. Essa conversão já valeu à prefeitura de São Paulo o equivalente a mais de 800 mil toneladas de créditos de carbono, que foram leiloados em setembro de 2007 no primeiro leilão de carbono do Brasil e da América Latina. O banco belgo-holandês Fortis comprou por 16,20 Euros (cada crédito) os 808.450 créditos ofertados pela Prefeitura de São Paulo. Esses créditos de carbono podem ser usados pelo banco tanto para cumprir eventuais metas de redução de emissão de gases de efeito estufa como para vender no mercado internacional, principalmente o europeu, onde seu preço já ultrapassa os 20 euros.No aterro São João, o processo de implantação da Usina de Biogás começou em junho de 2007, com o início da operação de descontaminação do metano. Tanto a Unidade de Geração de Energia de Bandeirantes quanto a de São João estão entre os cinco maiores projetos do mundo de controle de gases que causam o efeito estufa a partir do reaproveitamento do lixo.Considerando-se o lucro obtido pela venda dos créditos de carbono, é natural que se pense que o problema do lixo está resolvido, bastando, apenas, construir mais aterros. É justamente aí que mora o perigo, pois os aterros ocupam imensas áreas e quando chegam ao seu limite devem encerrar suas atividades. Um novo aterro está sendo cogitado (ao lado da Cantareira), já que o Bandeirantes está esgotado e com licença de funcionamento expirada desde março de 2007. Vê-se que a quantidade de lixo que produzimos ainda é altíssima (quantos aterros seriam suficientes?). Apenas cerca de 1% do lixo é reciclado, sendo que a cidade teria potencial para reaproveitar cerca de 35%.A nossa tarefa não é aperfeiçoar a destruição do lixo, mas encontrar formas de evitar produzir esse lixo. Reconhecer que o consumismo absurdo a qual nossa sociedade está enquadrada é a causa do aquecimento global e o desperdício é a causa da falta de espaço para deposição de lixo, é reconhecer que aquele lixo produzido é a conexão mais concreta que cada um de nós tem com a destruição do planeta. Menos lixo, melhor!!!!

Fonte: Site da Unib

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